4.17.2008

Papeis invertidos

Quando o jornalísta deixa de fazer notícia para virar notícia

Acho muito irônico certas coisas. Cinco dias atrás a vida da família de Isabella Nardoni era invadida pela mídia. Domingo a Record retratou e ápice do jornalísmo puro: o que a família Nardoni havia comprado no supermercado com imagens ao-vivo de alguém colocando as compras do carro para dentro da casa era a pauta do momento. Quarta-feira o jogo virou.

Agora a vida do jornalísta Roberto Cabrini é invadida. Entre as manchetes, estão: Idosa leva livro de auto-ajuda a Cabrini na prisão'; 'Delegado diz que cela de Cabrini não tem boas condições de higiene'; 'Mulher diz ser amante de Cabrini em depoimento', entre outras. Quão relevante é tudo isso ? Digam-me qualquer coisa que não envolva os nomes Cabrini e Nardoni.


Segundo o jornalísta e a assessoria da Record, o Cabrini estava fazendo uma reportagem investigativa. Pouco me importa. Jornalísta não é Deus. Não aprendemos na faculdade a usar cocaína para conseguir informações. Muito menos munir-se com dez papelotes da droga para isso.

Deixo com a voz da experiência, Noblat: "Quer dizer que o código [de ética] impede em determinadas circunstâncias que se publiquem reportagens capazes de repercurtir intensamente ? E de vender jornal ? A resposta é sim. E a razão, muito simples: em alguns casos, o repórter só obtém informações se deixar de lado o comportamento ético ditado por códigos profissionais ou pela própria consciência. A ética deve permanecer até mesmo sobre a obrigação que tem um jornal de revelar o que possa interessar o leitor.

[...]

Costumamos dizer que, enquanto médico pensa que é Deus, jornalísta tem certeza. Jornalísta não é Deus. Não está dispensado de respeitar a Constituição e as leis do país. Não tem mandato conferido por ninguém para atuar ao arrepio de códigos e normas socialmente aceitas. A denúncia de um ato criminoso não justifica a prática criminosa."


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