Quebrei o espelho do banheiro. Quebrei-o por dentro. O traí.
Olho para ele, e não vejo mais a mim mesma. Vejo uma estranha. Uma estranha sem bochechas, cabelos manchados e mal cortados por minhas próprias mãos, pele clara, manchas escuras, olhos tão profundos que não dizem nada e não têm sentido.
Entrei em uma fase de auto-destruição interna. Quebrei-me por dentro. Traí-me.
Costumava gostar de sangrar, cortar-me para ver o quanto sangrava, o quanto dóia; descobrir meus próprios limites. Meu corpo se acostumou: agora é cortado sozinho. Tenho hemorragias internas diariamente, mas, ninguém percebe.
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O mundo dentro do espelho é um mundo novo, uma espécie de Alice no país macabro das maravilhas. Sou traída por minha própria mente e por tudo a sua volta. Entrei na lei do uso e desuso: não sou mais usada e meu próprio ambiente me trocou por alguém que é tem uso.