Todas começam sempre bem, tudo fica arrumadinho e a casa cheirosa e no lugar. Depois do segundo ou terceiro salário, as coisas começam a mudar misteriosamente de lugar, e elas passam a pensar que tem o direito de mudar tudo de lugar.
Cinco anos atrás, a diarista comia meus chocolates. Era só deixar aberto, ter comido um quadradinho, pra que, misteriosamente, no final da tarde de quinta, ele tivesse sumido.
Cada uma tem seu traço, alguma característica que incomoda, ou agrada.
Quando eu era criança, tinha a Sandra. Essa eu adorava. Porque ela ficava brincando comigo - em vez de arrumar a casa, haha.
E a Neide I (sim, porque na história desta casa existem duas Neide's. A Neide-Neide e a IRANEIDES, a diarista atual), que trazia a sobrinha pra brincar comigo. Essa era uma fofa, quando minha avó morreu, ela foi uma das primeiras a ficar comigo no velório, mesmo depois de anos em que a gente não se via e ela não trabalhava mais aqui.
Agora... a Neide II (sim, a IRANEIDES), essa sim é figura.
Uma das vezes que ela veio aqui, minha carteirinha da academia, misteriosamente, foi parar na fruteira [?!]. Sim, na FRUTEIRA. Frutas devem ter algo a ver com regime, que lembra academia, e sim, esse deve ser o primeiro lugar a procurar uma carteirinha de academia quando a mesma some. E tem quando o marido dela liga em casa, eu atendo e ele diz: "Oi, amor !", ou quando a filha liga pra falar que não quer ir pra escola nem consegue fazer o dever de matemática, ou a outra que liga pra avisar que não vai no cursinho, e o filho que liga pra avisar que já está saindo do trabalho para buscá-la. Ou, quando a patroa da quarta-feira liga (antes das oito horas da manhã, que é o horário que ela chega) pra perguntar aonde ela colocou algo. Depois liga pra falar que não estava aonde ela falou, e liga de novo pra avisar que achou, ou não.
Eai, quando meu pai chega do trabalho, é toda quinta a mesma coisa: "Táquipariu, véi ! Cadê meu chinelo ?!", hahaha.
Eu não ligo, sinceramente, porque no final do dia eu só quero a casa limpa. Mas bem que ela podia comprar um celular baratinho pré-pago pros recados dela, afinal, ela nem ganha mal (nota-se: ganha, aqui em casa, uma vez por semana, o que eu ganhava trabalhando todos os dias em um mês como estagiária, e olha que eu bem faxinava o almoxarifado. E ainda tinha que duelar com as aranhas de lá. E de salto-alto !).
