3.05.2008

Desabafo

Cresci indo a Igreja de Aparecida todos os finais de ano até os nove anos. Não gostava da missa, gostava era da viagem com meu avô dirigindo e inventando estórias. Minha família inteira é católica, mas não vamos a Igreja - com excessão de casamentos, e só porque rola um comes e bebes depois, haha. Não vamos por 'n' motivos, um deles é que acreditamos que para falar com Deus não é preciso lugar. O outro é por pura preguiça.

Eu e minha mãe não fizemos primeira comunhão e meu pai cabulou todas as aulas. E hoje, muitas vezes me arrependo até de ser batizada pela Igreja Católica. Religião não é um assunto discutível, mas eu não quero respostas, até porque geralmente esse é o último assunto a passar pela minha cabeça em uma conversa, eu só quero expressar meus sentimentos em relação a Igreja.

Quando meu filho nasceu, logo vieram todas aquelas pessoas abelhudas querendo saber quando/onde/como/com quem eu iria batizá-lo, e eu não fazia (e não faço) a mínima questão do ato.

Por motivos de força maior, fui obrigada a fazer o bendito cursinho para batismo. E ainda tive que pagar por isso. Enfim. Logo no início do curso (em uma tarde quente de domingo), a pessoa que supostamente está lá para instruir pais e padrinhos a cuidar de suas respectivas crias, diz que pais que não são casados não são bons pais, pois não estão instruindo os filhos ao caminho de Deus. Já disse, e faço questão de repetir: um papel assinado pelo juiz não me fará melhor ou pior mãe. Deus só quer ver as pessoas felizes, então antes juntada e feliz do que casada e infeliz. Apartir desse momento, passei a jogar Bejeweled no celular (e Deus abençõe as tecnologias !), quando ouço uma voz perguntar o que passava pela minha cabeça:

- Mas, por que batizar a criança tão cedo e não esperar ela crescer para que ela decida qual é a melhor religião para sí ?
- Você não escolhe o nome do seu filho ? Não escolhe o médico e o melhor hospital para ele nascer ? Escolher a religião é a mesma coisa.

Penso: Se meu filho chamasse Cláudiwylson, e eu escolhesse um médico que em vez de cortar a fimose dele, cortasse o pinto dele fora, ele iria me matar na primeira oportunidade.

(Nota: uma intimação dessas para os "bons pais" batizarem seus rebentos não faz lembrar a Idade Média, quando até índios eram obrigados a irem para o catolicismo, e pessoas compravam seus terrenos no céu ?)

Depois de um zilhão de absurdos, ainda obrigada, fui perguntar sobre como marcar o bastismo. Resposta: Cento e trinta reais, três crianças por domingo e ficar na lista de espera para marcar a data. 130.3=390 reais por final de semana. Para jogar água (da torneira) na cabeça da criança e fazê-la chorar. É um pouco menos que um salário mínimo. Pergunto então, o que a Igreja faz com esse dinheiro, e a resposta obtida é caridade. Olho a minha volta e vejo o lugar em reforma, uma igreja nova estava sendo construída em cima de onde estávamos. É óbvio o que pensar em uma situação dessas.

Procurei outras Igrejas pelos quatro cantos de São Paulo, mas todas tinham as mesmas hipocrisias, então, desisti. (Por hora, meses depois fui intimada a marcar o batizado, como se não tivesse mais nada para me preocupar nessa vida)

Temos um Papa que diz ser pecado usar camisinha em pleno século 21: é claro que quem morre de AIDS vai direto pro céu por não ter se protegido. E quem tem quinze filhos - e nenhuma condição de criá-los - não precisa nem de fila, já tem crachá VIP no céu. Uma coisa é fé; acreditar que algo superior a nós nos protege e está lá olhando por nós. Outra coisa é ser burro e acreditar em tudo o que dizem sem se questionar o por quê.

Quando vejo aquelas mulheres de saias enoormes andando pela cidade em dias de frio cortante, penso que Deus deve olhá-las e dizer: "Tá passando frio porque é burra, ninguém mandou acreditar naquele pastor idiota."



Acreditar em Deus, sim. No que qualquer um diz sobre religião, não.